História

História da Escola de Minas

A história da Escola de Minas de Ouro Preto está diretamente ligada à história do desenvolvimento acadêmico de qualidade e da pesquisa científica da maior nação da América do Sul. Desde o descobrimento do Brasil, a coroa portuguesa procurava saber quais seriam as reais dimensões das riquezas das novas terras, para poder explorá-las. Havia até mesmo uma certa desconfiança de outros países europeus de que a coroa portuguesa escondia quais seriam as reais riquezas da sua colônia sul- americana, como por exemplo expressava a Holanda, que chegou a criar uma missão de exploração no nordeste do Brasil. O fato é que, nesses primeiros anos pós- descobrimento, nem mesmo Portugal sabia a real dimensão da potência econômica da nova colônia. A dúvida sobre as riquezas brasileiras ainda hoje é perene, prova disso é que, em pleno século XXI, não há uma certeza sobre o que realmente a região Amazônica possui para ser ainda explorada.

Com a decadência do ciclo da mineração do ouro e do alto custo de importação do ferro da Suécia, a coroa portuguesa percebeu que seria necessário investir em processos de extração e na formação de cientistas para desenvolver o setor mineral do Brasil Colônia. José Bonifácio Andrada e seu irmão Martim Francisco foram enviados para a Europa, lá ficando por 10 anos estudando as ciências naturais e exatas para essa finalidade. O príncipe regente D. João VI contratou o Barão de Eschwege para estudos e desenvolvimentos de processos minero siderúrgicos. O problema da importação do ferro sueco começou a ser solucionado com o desenvolvimento de pequenas usinas de redução de minério em Ipanema, na província de Minas Gerais. Eschwege obteve maior sucesso produzindo ferro em Congonhas do Campo, sendo ainda o primeiro cientista brasilianista a realizar estudos de pesquisa geológica das terras brasileiras. Os resultados dos seus trabalhos foram publicados no livro Pluto Brasiliensis, em 1833.

Com a independência do Brasil de Portugal e a realização de uma Assembleia Constituinte em 1823, foram discutidas a criação de universidades e de uma escola mineralógica na província de Minas Gerais, para o desenvolvimento econômico do novo Império. Decretos sobre a fundação de uma instituição de ensino para esse fim foram discutidos e publicados pela Assembleia Legislativa da Província de Minas Gerais na primeira metade do século XIX. Passados alguns anos, a Escola Central do Rio de Janeiro foi transformada em Escola Politécnica, em 1874. Este era o cenário que fez com que, impulsionado pela curiosidade e necessidade de crescimento econômico, o Imperador do Brasil, D. Pedro II, em sua segunda viagem pela Europa, convidasse o cientista Auguste Daubrée, para visitar o Brasil e realizar estudos sobre as riquezas minerais que o Império potencialmente poderia ter. Acontece que, por força do destino, o engenheiro Daubrée havia acabado de ser nomeado diretor da Escola de Minas de Paris, o que o impedia de aceitar o convite de D. Pedro II. A solução para atender o Imperador foi indicar um cientista talentoso que havia estudado com Pasteur, Claude-Henri Gorceix, que estava se destacando por sua capacidade intelectual e por seu trabalho científico em sítios arqueológicos vulcânicos realizados na Grécia e Turquia.

D. Pedro II
D. Pedro II.
Auguste Daubrée
Auguste Daubrée.
Claude-Henri Gorceix
Claude-Henri Gorceix.

Claude-Henri Gorceix não só aceitou realizar estudos das riquezas minerais do Brasil como propôs para o Imperador D. Pedro II, depois de conhecer todas as regiões com potencial mineralógico do país, fundar uma Escola de Minas na província de Ouro Preto. Além da Escola de “Mineiros” como Gorceix a princípio batizou a instituição, em 1876, ele também fundou dois anos depois, em 1878, um curso preparatório para corrigir as deficiências acadêmicas de candidatos da escola. A modesta escola de Gorceix, composta de três edificações, uma das quais, segundo o próprio CH Gorceix em carta para o Imperador, “um prédio público que estava destinado para servir como escola de meninas”, estava situado entre a Igreja das Mercês (de cima) e da Misericórdia e a primeira Santa Casa de Ouro Preto, na rua das Mercês. Atualmente a rua se chama Padre Rolim, o casarão de 2 andares que seria uma escola de meninas permanece com o número 77, identificado com uma placa comemorativa do 1º Centenário da Escola em 1976, em sua fachada.

Foi nessa escola que Gorceix fez história revolucionando o ensino acadêmico do Brasil, ao implementar no país uma formação que ultrapassava a teoria, incentivando a prática, o pensar e o refletir, introduzindo métodos de estudos desconhecidos pelos brasileiros, como a obrigatoriedade de uso dos cadernos para anotar as aulas ministradas, obrigando o aluno a evitar ausências e a prestar atenção ao conteúdo dado. A abolição de decorar livros, a ênfase na docimasia - aulas práticas em laboratórios próprios, jornada de 7 às 17h e trabalhos de campo nos períodos de férias acadêmicas. A importância da Escola de Minas foi demonstrada pelas duas visitas que recebeu da família imperial brasileira. Sua fama correu mundo e a instituição ganhou diversas premiações internacionais. Suas práticas geraram frutos, seus alunos ocuparam todos os tipos de cargos de relevância da nação. Gorceix, esse professor francês, com um brasileiro, conseguiu com o seu trabalho, alterar o futuro acadêmico da educação do setor minero-metalúrgico do Brasil.

Com a queda do Império e a instituição da República, CH Gorceix retorna para a França. A Escola de Minas que mudou não só o Brasil, mas também mudou para sempre a vida do prof. Gorceix. Ele se casou com uma brasileira, ouro-pretana de origem e, nunca deixou de trabalhar pelo desenvolvimento da nação, chegando até mesmo a ocupar um cargo de Inspetor do Ensino Agrícola de Minas Gerais no governo de Crispim Bias Fortes, enquanto exercia o cargo de prefeito da cidade francesa de Bujaleuf. Mesmo durante a 1ª Guerra Mundial Gorceix não cessou suas atividades, lutando pela melhoria das escolas da sua região de origem, até a sua morte em 1919.

Destinada ao sucesso, a Escola de Minas seguiu o seu caminho, sendo dirigida pelos discípulos do Prof. Gorceix. Em pouco tempo a relevância da Escola de Minas se confundia com o desenvolvimento intelectual e industrial brasileiro, se tornando uma das mais influentes instituições de ensino do Brasil. Entre seus alunos figuram personagens importantes da história do país. A tradicional Escola de Minas foi integrada em 1969 a Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP. Com um vasto patrimônio, laboratórios de ponta, bibliotecas modernas, além de obras raras e um excelente conjunto de museus temáticos do setor mínero-metalúrgico, a Escola de Minas é reconhecida pela excelência acadêmica e desenvolvimento tecnológico, o que permite que a instituição esteja sempre à frente do seu tempo.

Antigo Palácio dos Governadore, segunda sede da Escola de Minas.
Antigo Palácio dos Governadores, segunda sede da Escola de Minas.